Jair Messias Bolsonaro, o autoritário e genocida presidente do Brasil, está com as mãos sujas de sangue, mais uma vez. Mas ele não está sozinho. As balas que ceifaram as vidas de Chico Mendes, Irmã Dorothy, Zé Claudio e Maria, Paulino Guajajara, e outros mártires, voltaram a matar.
O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips não é um fato isolado. Em setembro/2019 o servidor da FUNAI Maxciel dos Santos foi atingido por duas balas na nuca, na principal avenida de Tabatinga/AM, assassinado na frente de sua esposa e filha. Odiado pela quadrilha de pescadores ilegais que atua na região, sua morte ocorreu uma semana após ter participado de uma ação que apreendeu mais de uma tonelada de pescado e caça, e três dias antes da deflagração da Operação Korubo, articulada por Bruno Pereira para o combate ao garimpo ilegal. Max participou do planejamento dessa operação. Curiosamente, o crime nunca foi solucionado pela Polícia Federal, e seus algozes seguem impunes até hoje.
A Operação Korubo contou com a participação de dezenas de agentes da PF, FUNAI e IBAMA, e resultou na inutilização de cerca de 50-60 balsas do garimpo, incendiadas no rio Jutaí, nos arredores das Terras Indígenas Vale do Javari e Katuquina, e da RDS Cujubim. O Exército deveria ter participado, mas boicotou a operação, que só ocorreu após dois adiamentos. Três dias depois da operação, que causou prejuízo estimado em R$ 30 milhões aos empresários que financiam o garimpo ilegal, um grupo de parlamentares paraenses e representantes dos garimpeiros de Itaituba/PA foi a Brasília, reclamar com o então ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (hoje, Ministro da Cidadania no governo Bolsonaro). Em reunião conjunta com o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, saíram com a promessa do governo de tentar impedir a destruição de máquinas e equipamentos pelas equipes de fiscalização do IBAMA e PF. Menos de um mês depois, Bruno foi exonerado da coordenação geral de índios isolados da FUNAI (vinculada ao Ministério da Justiça, comandado por Sérgio Moro, à época), numa clara tentativa de dificultar as ações de repressão contra as atividades ilegais que ocorrem no oeste do estado do Amazonas.
O narcogoverno de Bolsonaro
Diversas denúncias apontam para um esquema criminoso ocorrendo na região da tríplice fronteira Peru- Brasil-Colômbia. Narcotraficantes fazem lavagem de dinheiro obtido com o comércio de cocaína realizando a exportação de madeira, tracajá e peixes (pirarucu e piracatinga), obtidos ilegalmente no Brasil, mas vendidos legalmente como sendo de origem peruana ou colombiana. Em abril/22, Bruno denunciou à PF e ao MPF, a atuação de uma organização criminosa, informando nomes, indicando os locais e repassando os registros fotográficos. Mas nada foi feito pelas instituições do Estado brasileiro. Bolsonaro se tornou cúmplice dos crimes.
Antes, em setembro/2019, a UNIVAJA – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari já havia reforçado as denúncias sobre as ameaças às quais estavam submetidos: “As ameaças de outrora, se intensificam no presente. Listam-se os mais recorrentes, que em nome da religião estabelecem base e trabalhos missionários evangélicos, e buscam contato com os isolados causando interferência no espaço tradicional geopolítico de nossa ancestralidade. Há que mencionar as atividades de extração de minérios. Garimpeiros se instalam de forma ilegal e passam a explorar comercialmente a região causando problemas ambientais incalculáveis aos brasileiros que vivem na região e aos interesses nacionais. O mesmo ocorre com o ressurgimento de fazendeiros, petroleiros, pescadores e caçadores de animais silvestres”.
Ao invés de determinar ações das Forças Armadas e Polícia Federal para combater as atividades ilícitas na região, Bolsonaro fez o contrário: adotou uma série de medidas para enfraquecer os órgãos públicos e dificultar a fiscalização, multa e apreensão de maquinário e produtos ilegais. O ex-ministro Ricardo Salles foi acusado, por um delegado da PF, de participar do esquema de contrabando de madeira e de obstruir investigações contra organizações criminosas que atuam na Amazônia. Também foram acusados parlamentares do partido do presidente Bolsonaro, o Partido Liberal – PL, que participariam da chamada “bancada do crime” no Congresso Nacional: o senador Zequinha Marinho (PA) e a deputada Carla Zambelli (SP), fariam parte.
Justiça para Bruno e Dom.
Quem mandou matar Bruno Pereira e Dom Phillips? Essa pergunta precisa ser respondida. Mas também são necessárias respostas às exigência feitas pela UNIVAJA: - que se aprofunde e se amplie a investigação, para desmantelar o esquema criminoso da região; - que seja garantida a fiscalização territorial efetiva no interior da Terra Indígena Vale do Javari; - que as Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) da FUNAI sejam fortalecidas.
Em suas mortes, Bruno e Dom deram mais uma contribuição inestimável à luta dos povos originários, pois seu martírio jogou luz a uma região propositadamente abandonada pelo assim chamado “estado democrático de direito”, que ao fim, demonstra-se cúmplice ativo das atrocidades e ilegalidades cometidas no local. Cabe àqueles que realmente estiverem dispostos à defender a Amazônia e seus povos, recolherem todos os pertences e ideais submersos nas águas do Vale do Javari, e levanta-los bem alto, dando continuidade à luta por uma terra sem males. Bruno e Dom, PRESENTES!!!!! Hoje, e sempre!
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